

Pontapé Inicial
Walace Ávila
Imagine: é segunda-feira e você quer entrar no seu site de notícias de sempre para buscar a sessão esportes, pois no dia seguinte haverá jogo do seu time do coração e você não pode estar desligado da tabela do campeonato. É fácil pensar essa rotina, não é mesmo? Pode até não ser a sua, mas muitos brasileiros ficam ligados na TV numa quarta-feira a noite e domingo a tarde afim de assistir o seu futebol. Essas rotinas estão ligadas a nós e a nossa cultura brasileira. O futebol sempre foi valorizado pela mídia nacional e por nós, o público.
Mas agora te pergunto: por que o futebol sempre é o esporte mais visado pela imprensa esportiva? Claro que alguns esportes, como vôlei, ganham destaque, mas são em épocas específicas como Olímpiadas ou quando a seleção conquista alguma alta posição.
É fato que temos diversos esportes que não ganham tanta visibilidade, mas que também fazem parte da nossa cultura. Dito tudo isso, preparamos conteúdos aqui para agregar mais opções de rotina às quartas e domingos, além do futebol. Os conteúdos feitos nessa editoria te darão uma visão sobre o amplo cenário esportivo brasileiro, que por muitas vezes fica escondido pelas cortinas dos jornais nacionais de esportes.
Que nunca esqueçamos de nosso herói
Vitor Esperança

Brasil. Terra de ídolos. Se engana aquele que só pensa que ídolos são apenas os futebolísticos. Não julguemos, afinal, somos referência nesse esporte. Pelé, Garrincha, Marta, Zico, entre tantos outros nomes que eu poderia escrever. Seria uma página só com nomes do futebol. Também temos ídolos no basquete como Oscar Schmidt e Hortência. Guga no Tênis, Giba e Sheila no vôlei. No atletismo temos Maurren Maggi, entre tantos outros nomes nos mais diversos esportes. Até peço desculpas aos deuses do esporte por não mencionar a todos. Juro que essa heresia não é proposital, é limite de palavras do texto. Perdão.
Falar de todos leva tempo. Por isso, esse texto refere-se especificamente ao esportista que foi considerado o maior atleta brasileiro de todos os tempos. Ayrton Senna. Mas não, simplesmente, o Senna que vimos e revimos, ganhando corridas e campeonatos. Nem o Senna no seu íntimo familiar. Precisamos ver um outro lado de Ayrton Senna. O lado de herói. Podem falar “Ah, herói são os bombeiros que salvam vidas, esportistas não”, entendemos isso. Ninguém discorda da importância dos bombeiros e policiais. Mas não podemos negar a imagem de herói que ele recebeu aos olhos daqueles que o assistiam. Principalmente as crianças. Essas crianças, hoje são adultos, mas que, ao lembrarem, os olhos voltam a brilhar igual brilhavam na infância, quando acordavam cedo para acompanhar as corridas.
Como não ser um herói ao segurar a bandeira brasileira depois de vencer uma corrida apertada na chuva? Vai dizer que não é herói aquele que vence Alain Prost depois dos dois quase se matarem dentro da pista? Convença aquele garoto que se vestia de vermelho e fingia ser piloto na frente da TV que Senna não é herói. Hoje o garoto está crescido, é um adulto que não se veste mais de Senna, mas quem vai convence-lo que Ayrton não é um herói?

Para humanizar esse garoto que representa uma geração inteira de fãs, daremos a ele um nome. Michael. Hoje não mais uma criança, mas que não deixou sua criança interior morrer com as memórias de Senna. Por acaso do destino, seu nascimento é no mesmo ano que Senna fazia sua estreia na Formula 1, em 1984. Desde os 4 anos já se interessava por corridas, mas principalmente a um brasileiro especifico, que nessa época conquistou seu primeiro título, em 1988. Aos 6 anos de idade em 1990, quando já era um legitimo apaixonado por F1, ele assistiu a mais um título de Ayrton Senna. No ano seguinte, mais um título conquistado pelo motorista do carro com a bandeira brasileira chacoalhando para fora.
Não é herói aquele que é motivo para uma criança pegar o rádio relógio do pai para acordar de madruga e assistir uma corrida? Para Michael não era apenas um herói, era um super-herói. Mais importante que isso, era um super-herói que não precisou sair das páginas de um quadrinho ou dos desenhos que passavam de manhã na Record. Foi o único super-herói que existiu na vida real. Ele era tão real e tão herói que fez o oposto e foi da realidade para os quadrinhos. Não existia Homem Aranha ou Batman que fossem capaz de derrotar Ayrton Senna, pelo menos não em uma pista de corrida. Na verdade, até fora da pista Senna venceria os dois, mas não importava. Era na pista, somente na pista que Michael queria vê-lo, afinal, embora fosse, ele não precisava mostrar ser o melhor em tudo. Ser o melhor piloto da história já era o suficiente. Era essa a certeza que se tinha sobre Ayrton Senna. Já que não restava dúvidas para Michael, agora com 10 anos, que Senna era um super-herói (nenhum brasileiro mais duvidava), agora era esperar a próxima corrida, a próxima vitória.
E então, aconteceu. 1994 foi o ano. O acidente. O tão famoso e fatídico acidente. Na curva Tamburello no autódromo Enzo e Dino Ferrari, no GP de San Marino na Itália. Ao acompanhar o ocorrido, Michael se preocupou, mas não via motivos para grandes alardes. Todos os heróis que ele via na TV tinham momentos de dor e que parecia que perderiam. Pouco depois eles voltavam e derrotavam os vilões. Sempre foi assim. Seguindo a vida, naquele domingo, 1 de maio, Michael brincava na casa de um amigo, quando começou a inesquecível música do plantão da Globo. O anuncio foi o mesmo que um soco no estômago. Muito que assistiam já esperavam. Foi um acidente gravíssimo. Mas Michael, a legitima representação do puro fã de corpo e alma, não podia acreditar. Não queria acreditar, afinal, era impossível. Super-heróis não morrem. Talvez morressem no final de uma grande batalha, salvando o mundo. Mesmo assim, depois eles voltavam. Infelizmente essa era a vantagem dos heróis desenhados no papel, eles podiam voltar.
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Aquela não era a hora nem o momento para Senna morrer. Ele ainda estava no seu auge, estava, literalmente, correndo no seu melhor. Quantos outros vilões não era para ele derrotar nos próximos anos de atividade? Se perguntava, não apenas Michael, mas todos os brasileiros, de todas as idades que entenderam que ele, sim, era um verdadeiro super-herói.
O patriotismo de Ayrton foi a causa de tanta paixão entre tantos que o acompanhavam. As narrações de Galvão Bueno só aumentavam esse sentimento. O fato de termos um brasileiro, mostrando ao mundo nossa bandeira, mostrando que o Brasil também é o país do automobilismo, fez que não precisássemos esperar a Marvel ou a DC criarem um herói que nos representasse. Ele apareceu por conta própria. Correndo, ganhando, ajudando ao próximo, mostrando que o brasileiro pode sim ter orgulho de ser brasileiro. Mais do que isso, ele fez as crianças que o assistiam entenderem que temos um herói que representou as cores verde e amarelo com todas as forças de sua alma.

Que essas crianças que já cresceram nunca esqueçam de seu herói. E que transmitam para as crianças de hoje que temos um herói que jamais deve ser esquecido pelo seu povo!
Eduardo Arantes
Durante as aulas de geografia que temos na época de ensino fundamental e médio, os livros nos ensinam que nosso Brasil é dividido em 5 regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste). Algo curioso que em cada região, é que o processo de migração é perceptível quando pessoas acabam saindo de seu estado ou região de origem e saem para estados diferentes pelos mais variados motivos.
E juntando ao esporte, existem diversos casos de nortistas e nordestinos acabarem torcendo para times de futebol do Sul e Sudeste brasileiro. Por isso, perguntamos a cinco pessoas que moram no Norte e Nordeste os motivos pelos quais as levaram a torcer para equipes de futebol da região Sudeste ou Sul.
Veja no vídeo abaixo, as respostas dos entrevistados a respeito deste assunto:
Por que as pessoas do Norte e Nordeste torcem para clubes do Sul ou Sudeste?
2018 não foi o ano para o esporte brasileiro
Ministério do esporte perdeu quase toda sua verba de um ano para outro
Vitor Esperança
Quando pensamos em atletas profissionais a primeira imagem que vem a nossa mente é de pessoas bem sucedidas, com belas casas, carros e muito dinheiro. É verdade que as grandes competições mundiais são realizadas com investimentos milionários. Agora, quem participa dessas competições nem sempre possui a mão investimentos a altura para que possam participar dessas competições. Vide “Jamaica abaixo de zero”, filme baseado em uma história real, onde um grupo de atletas desse país tropical decide praticar bobsled, um esporte de neve.
Não precisamos ir para a Jamaica para entender que a falta de investimentos é uma grande barreira no desenvolvimento dos atletas. O Brasil é um grande exemplo disso. A maior parte da verba dos esportes olímpicos do nosso país vem do governo. O esporte sempre ficou para depois nos planos de governo, tanto que em 2018 não foi diferente, na verdade, piorou e muito. Comparado a 2017, A Lei Orçamentária Anual (LOA) recebeu um corte de 87% da verba do ministério do esporte. Essa foi a pauta enviada para a Câmera no início do ano, levando em consideração os limites de gastos que foram propostos.
Gastos do LOA com o Ministério do Esporte
2017
2018
Valores em milhões de reais
Dentro dos gastos com o ministério do esporte estão em destaque as rúpricas do “Bolsa atleta[1]”, “Preparação de atletas e capacitação de recursos humanos para o esporte de alto rendimento[2]” e “Preparação de seleções principais para representação do Brasil em competições internacionais[3]”. O "combate ao doping[4]" também sofreu percas esse ano. Mas a rúprica que mais sangrou foi a “Implantação e modernização de infraestrutura para esporte educacional, recreativo e de lazer[5]”.
Comparação de gastos governamentais no esporte
Valores em milhões de reais
462
7
130
56
70
7
4
40
8
2





[5]
[1]
[2]
[3]
[4]
Por causa das ações do teto de gastos implantado pelo governo o investimento em esportes acabou ficando defasado. A grande queda mostra tempo difíceis que o esporte brasileiro vem passando.
O grande gasto para a realização das Olimpíadas do Rio em 2016 ajudou a secar o investimento em esportes. A realização do evento acabou criando um rombo na verba de 1,6 bilhão de dólares, considerando que metade do orçamento para a realização do evento veio de verba pública.
O futuro do esporte brasileiro é incerto. Jair Bolsonaro, presidente eleito que assume em 2019, havia dito em transformar o ministério do esporte em um secretaria do ministério da educação. Pouco tempo depois voltou atrás e disse que ainda está estudando o que fazer com o esporte. Transformando em secretaria ou mantendo como ministério, Bolsonaro afirma que o esporte é de extrema importância para a sociedade.
Enquanto a ajuda não chega, os brasileiros vão dando o seu melhor. O jeitinho brasileiro, nesse caso, é utilizado no melhor dos sentidos, já que é preciso que se virem com o que tem.
E o Brasil entra em campo... mas nos campos eletrônicos
Walace Ávila
Se eu disser para você que o Brasil é o país do futebol, vai concordar comigo, não é mesmo? E se eu te perguntar agora, se o Brasil também é o país do vôlei? É, digamos que também seja, não acha?
Mas, agora, se eu te perguntar sobre o Brasil estar se tornando o país dos E-sports e dos Gamers, você saberia me responder? Os esportes eletrônicos conquistaram um grande espaço na vida de muitos brasileiros, e ainda continuam ganhando cada vez mais abertura para investimentos e públicos diversos, tudo isso bem debaixo do nosso nariz. O que antes se restringia apenas a encontros entre amigos nas "lan houses", competições e disputas valendo 1 real, hoje, as proporções dos eventos e dos prêmios são muito maiores.
De acordo com a Newzoo, consultora do mercado de games, o Brasil possui cerca de 75,7 milhões de jogadores que movimentaram na indústria dos gamers e torneios torno de 1,5 bilhão de reais neste ano de 2018. Incríveis números nos colocam como a décima terceira no raking mundial de mercado de jogos. Eu sei, boa parte deste número de jogadores citado acima correspondem a jogadores que já são profissionais e que buscam maiores posições e participam de torneios mundiais. Porém, não podemos esquecer o público amador e os entusiastas que andam ganhando maior número. Gustavo Nunes não só acompanha competições do jogo de ”FPS“ (First Person Shooter) “CS:GO” (Counter-Strike: Global Offensive) como também participa com seus amigos em ligas amadoras. “ Montávamos um time de 5 parças e a gente ia jogando os campeonatos.” O Brasil é responsável por ter o terceiro maior público com espectadores entusiasmados que assistem e acompanham torneios de esporte eletrônico. São em torno de 8,5 milhões de brasileiros que estão conectados com o universo dos games.
Ainda no Brasil o esporte eletrônico é visto com olhares de preconceitos e estereótipos que impedem as pessoas de o considerarem como esporte legítimo. Você já deve ter ouvido os termos “nerds , “virjões” que muitos de usam para tirar onda com o público gamer.
O Brasil só é destaque no futebol?
Eduardo Arantes
Diariamente durante a programação de jornais esportivos, grande parte da mídia brasileira realiza diversas matérias e coberturas apenas sobre futebol. E muitas vezes parece que a imprensa "esquece" da existência de outros esportes e dos outros atletas brasileiros de destaque no meio esportivo. Esse processo nos leva a uma pergunta: será mesmo que o Brasil só tem bons atletas no futebol? E por qual motivo a mídia brasileira não aborda outros esportes além do mundo da bola?
Para o comentarista dos canais Espn Brasil, Gustavo Hofman, a resposta para estas perguntas é não. Ele cita o vôlei como sendo um esporte que possui maior destaque nos números do que o futebol. “O problema sobre este assunto é a monocultura esportiva. E este problema precisa ser resolvido na base, principalmente nas escolas onde você tem uma Educação Física que acaba não valorizando todos os esportes, porém nem todas as escolas fornecem estruturas necessárias para isso”, afirma.

Comprovando a fala de Hofman, as Seleções masculina e feminina de vôlei possuem títulos relevantes em suas respectivas competições. Alguns nomes conhecidos como Giba, Serginho, Fabi e Sheilla deixaram sua marca na história da modalidade. Porém, um dos nomes de destaque no vôlei masculino atualmente é o campeão olímpico Wallace de Souza, oposto do Sesc-Rio. Já a equipe feminina tem uma excelente representante. Tandara Caixeta, oposto da equipe chinesa do Guangdong Evergrande, considerada a melhor jogadora do Campeonato Sul-Americano de 2017.
Hofman ainda explica que o problema da monocultura esportiva pode causar um ciclo vicioso, atingindo a grande mídia. “As pessoas só querem saber sobre futebol, aí os canais de TV e a imprensa só falam de futebol porque se forem falar de outras modalidades correm o risco de perder audiência. Aí o patrocinador só investe se falar sobre futebol gerando um ciclo vicioso”. Hofman sugere que uma das formas de reversão desse processo seria a reeducação da cultura esportiva nos brasileiros.
Em contrapartida, de acordo com o comentarista Paulo Vinicius Coelho, o PVC, da Fox Sports, o problema da grande cobertura sobre futebol não é exclusivo da mídia no Brasil. “Este problema não é na mídia brasileira, mas na mídia mundial. De todos os grandes jornais esportivos no mundo, o único que tem uma grande variedade de esportes na capa é o L’Équipe, da França. Já na Itália por outro lado, 95% das páginas de esportes são sobre futebol”.
PVC revela que este imbróglio existe na cobertura dos jornais esportivos devido à falta de interesse do público em querer saber mais a respeito dos outros esportes. Ele cita os esportes olímpicos como exemplo para comprovar sua ideia. “Por que não tem muitas notícias sobre os esportes olímpicos? Porque as pessoas se importam menos com as notícias desses esportes”, conclui.

Um outro esporte que não possui a visibilidade que merece por parte dos periódicos brasileiros é o judô. Nesta arte marcial, duas lutadoras brasileiras faturaram a medalha de ouro nas Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016. A carioca Rafaela Silva conquistou o primeiro ouro na divisão dos 57kg, já Sarah Menezes se sagrou campeã alcançando o recorde como a primeira mulher a ganhar o ouro olímpico na modalidade pelo Brasil.

Por fim, um esporte que é pouco valorizado no âmbito nacional e que passou a ganhar certo destaque graças as conquistas inéditas de um brasileiro foi a canoagem. O baiano Isaquias Queiroz foi o primeiro brasileiro a ser campeão da modalidade na última edição das Olimpíadas. Além disso, foi bicampeão consecutivo da modalidade nos anos de 2013 e 2014.
A discussão a respeito dos jornais esportivos para com o futebol gera uma reflexão. O importante é divulgar notícias apenas sobre futebol pois, é o que o público quer consumir ou aumentar a variedade de notícias sobre outros esportes e com isso, ter um público mais informado dentro do mundo esportivo? Além disso, deve ser ressaltado também que o Brasil vai além das quatro linhas de um campo de futebol e que existem diversos outros esportes pouco conhecidos. Só basta as pessoas se interessarem em conhecer essas outras modalidades.
Eu, atleta
Vitor Esperança
Nós, atletas. Não, não somos os atletas que você está pensando. Neymar, Messi, Lebron James, Floyd Mayweather. Todos esses são atletas, claro, e do mais alto nível. Mas ainda não somos esses atletas. Nós somos os atletas anônimos. Aqueles que não possuem a mesma fama e dinheiro daqueles mencionados. Nem profissionais somos. Jogamos algumas vezes por semana. Não temos muito tempo para treinar, na verdade, quase nem treinamos. Apenas nos encontramos e começamos a peleja. Estamos no país do futebol, então é inevitável que a maioria de nós pratique esse esporte, mas também há os aventureiros que não se conformam em “apenas” chutar uma bola. Vários decidem ir para as quadras de vôlei ou basquete. Alguns voltam para os campos, mas para o colo do bretão Rugby, por exemplo. Enfim, não importa o local nem o esporte, sempre estamos lá. Por não termos a mesma classe que as estrelas profissionais, não produzimos o maior dos espetáculos. Para piorar, nem ganhamos um tostão furado para fazer isso. Pior, colocamos do nosso próprio bolso para continuar sendo atletas. Isso causa um certo desconforto naqueles que nos observam de fora. Qual o motivo de se desgastar física e economicamente com isso? Pensando racionalmente, não faz sentido continuar. Aí está o problema.
Não estamos falando racionalmente. Nós não temos o esporte como meio de vida. Não tivemos oportunidade (ou qualidade) para isso. Mas não foi por isso que excluímos o esporte de nossas vidas. Cada um de nós seguiu uma vida diferente, mas quando se trata de sermos atletas, nos tornamos iguais. Algo inexplicável no vasto universo que é a nossa alma nos torna iguais. E se engana aquele que pensa que nos encontramos apenas por dizer. Nossos jogos podem não ser os mais lindos tecnicamente, mas quando o assunto é dar o coração em campo, somos os maiores. Alguns profissionais ganham para isso e nem isso fazem. Se vissem a nossa raça para ganhar um churrasco e um fardo de cerveja, se envergonhariam por não serem iguais a nós. Na verdade, mesmo quando não vale nada, literalmente, ainda damos o nosso melhor. E é por isso que gostamos de sermos os atletas que somos. Não jogamos em estádios lotados com todo o mundo assistindo. Mas, quando marcamos um gol, um ponto ou o que seja, nos sentimos maiores que o próprio mundo, pois esse é o momento do reconhecimento de todo o nosso esforço. Mesmo sendo nada para o mundo, nessa hora o mundo está aos nossos pés.
Nós, atletas de final de semana, amadores e amantes de esporte que encontram um tempo para brincar seriamente, sabemos nosso lugar no mundo. Jamais estaremos no topo do Olimpo. Mas nosso indecifrável amor pelo esporte faz que tentemos, ao menos por um segundo, sermos notados pelos deuses. E bem lá no fundo, temos certeza que no momento do ápice do jogo, aquela sensação de que valeu a pena é um sinal que os deuses não esqueceram da gente.
Por fim, nós, atletas, profissionais ou não, estamos todos no mesmo barco. Sem conseguirmos explicar ao certo o que sentimos, mas sempre tendo esse inexplicável e maravilhoso sentimento que é ser um atleta. Enfrentar dificuldades, dores, ultrapassar nossos limites. Tudo isso para, no final, explodirmos em emoções, boas ou não. E, mesmo não sendo boas, tudo vale a pena.